Pesquisadores desenvolveram um algoritmo que, ao analisar a imagem de uma pessoa, consegue prever a idade biológica e a sobrevida de pacientes diagnosticados com câncer. Os resultados dessa tecnologia, denominada FaceAge, foram divulgados na última quinta-feira na publicação The Lancet Digital Health. Para os cientistas, este estudo revela que uma simples selfie pode conter dados cruciais que auxiliam médicos e pacientes na formulação de decisões clínicas e planejamentos de tratamento.
A idade biológica refere-se à condição funcional do corpo humano, que nem sempre corresponde à idade cronológica. Por exemplo, alguém que leva um estilo de vida sedentário, fuma e consome álcool pode demonstrar uma idade biológica maior em comparação à sua data de nascimento. De acordo com a pesquisa, previsões do FaceAge que indicaram uma idade biológica superior estavam ligadas a piores resultados de sobrevivência em diferentes tipos de câncer. Além disso, o algoritmo se mostrou mais eficaz que os próprios médicos na previsão da expectativa de vida de curto prazo de pacientes em tratamento com radioterapia paliativa.
“É possível utilizar inteligência artificial (IA) para estimar a idade biológica de uma pessoa a partir de imagens faciais, e nosso estudo indica que esses dados podem ter relevância clínica”, afirmou um dos co-autores principais do estudo, Hugo Aerts, que lidera o programa de Inteligência Artificial em Medicina no Mass General Brigham.
Os pesquisadores da instituição, que é uma plataforma de pesquisa hospitalar nos Estados Unidos, aplicaram técnicas de aprendizado profundo e reconhecimento facial para desenvolver o FaceAge. O algoritmo foi treinado com 58.851 fotografias de indivíduos considerados saudáveis, extraídas de bancos de dados públicos. Para validar a eficácia da ferramenta, a equipe testou o algoritmo em uma amostra de 6.196 pacientes com câncer, utilizando imagens coletadas rotineiramente no início do tratamento de radioterapia.
Os achados indicaram que os pacientes oncológicos aparentavam ser significativamente mais velhos do que aqueles sem a doença; a média de FaceAge dos pacientes com câncer era cerca de cinco anos superior à idade cronológica. Entre eles, uma FaceAge mais elevada estava associada a menores taxas de sobrevivência, em especial em indivíduos que pareciam ter mais de 85 anos, mesmo após ajustes para idade cronológica, gênero e tipo de câncer.
Ainda há a necessidade de mais investigações antes que essa tecnologia possa ser aplicada em um ambiente clínico. A equipe está avaliando o algoritmo para prever doenças, estado de saúde geral e expectativa de vida. Os estudos subsequentes incluem a ampliação dessa pesquisa para diferentes hospitais, análise de pacientes em variados estágios do câncer, monitoramento das estimativas de FaceAge ao longo do tempo, e testes de sua precisão em dados de cirurgias plásticas e maquiagem.
“Isso abre um novo campo de descoberta de biomarcadores a partir de fotografias, e seu potencial ultrapassa o tratamento do câncer ou a previsão da idade”, afirmou Ray Mak, outro coautor sênior do estudo e membro do programa AIM no Mass General Brigham. “Com o aumento da busca por uma compreensão mais precisa das doenças crônicas como manifestações de envelhecimento, é crucial que possamos prever de forma precisa a trajetória de envelhecimento de uma pessoa. Esperamos poder usar essa tecnologia como uma ferramenta de detecção precoce, em um contexto regulatório e ético forte, visando salvar vidas.”
Referência: The Lancet Digital Health.
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