O Futuro da Nuvem: Perspectivas Até 2029
A questão sobre o futuro da nuvem é um tema crucial para muitas empresas, e as respostas começam a se delinear nos novos estudos da Gartner, intitulados "O Futuro da Nuvem em 2029: A Jornada da Tecnologia à Necessidade Empresarial" e "Predições 2025: Desafios que Moldam o Futuro da Adoção da Nuvem". Durante a conferência de Infraestrutura de TI, Operações e Estratégias de Nuvem em Sydney, na Austrália, a Gartner apresentou oito tendências primordiais que afetarão o setor até 2029: insatisfação com a nuvem, inteligência artificial/aprendizagem de máquina, multicloud, sustentabilidade, soberania digital, supernuvem, computação de borda e soluções específicas para setores.
Joe Rogus, diretor de consultoria da Gartner, afirmou em seu discurso principal: "Essas tendências estão acelerando a transformação da nuvem, que passa de um facilitador tecnológico a um disruptor de negócios e necessidade para a maioria das organizações. Nos próximos anos, a nuvem continuará a abrir novas possibilidades de modelos de negócios, vantagens competitivas e formas de concretizar missões empresariais." Embora essa declaração seja ampla, percebo que ela não reflete a realidade atual. A nuvem já tem sido um elemento disruptor no mundo dos negócios há mais de uma década.
Por exemplo, podemos observar o impacto significativo da Amazon Web Services (AWS). Apenas dois anos após sua fundação em 2006, Larry Dignan, da ZDNET, previu que o negócio de nuvem da Amazon seria muito mais lucrativo do que suas operações de varejo. Atualmente, apesar de gerar cerca de 17% da receita total da Amazon, o AWS se destaca como o segmento mais rentável da empresa.
Conforme indicado pela empresa Spacelift, 96% das organizações estão utilizando a nuvem pública para parte de suas cargas de trabalho. O Relatório de Pesquisa em Computação em Nuvem da CDW de 2024 revelou que 45% das instituições já transferiram pelo menos metade de suas aplicações para nuvens públicas, e entre aquelas que ainda não o fizeram, 35% planejam migrar pelo menos metade de seus sistemas para a nuvem nos próximos três anos.
A disrupção já é uma realidade, como demostrado pelo caso da Microsoft. Embora muitos acreditem que a maior parte da receita da empresa provém do Windows e do Office, em 2024, 62% de sua receita veio de serviços em nuvem, enquanto o Windows representou apenas 10%. Essa divisão explica o investimento substancial da Microsoft em Linux.
Vamos explorar as tendências apresentadas pela Gartner e o que elas significam.
1. Insatisfação com a Nuvem: Um Desafio Crescente
Apesar da ampla adoção, a insatisfação com a nuvem se torna evidente, especialmente em relação aos custos. A Gartner prevê que, até 2028, um quarto das organizações enfrentará descontentamento considerável com seus investimentos em nuvem, geralmente devido a expectativas irreais, implementação inadequada ou custos descontrolados. Em minhas conversas com especialistas durante eventos do setor, constatei que muitas – se não a maioria – das empresas já estão insatisfeitas com suas contas na nuvem.
Segundo o Relatório de Inteligência de Custos em Nuvem 2024 da CloudZero, apenas quatro em cada dez organizações estão satisfeitas com seus custos em nuvem. Isso significa que aproximadamente 60% das organizações consideram seus custos mais altos do que o esperado, sendo que 49% afirmam que os gastos estão "um pouco acima do necessário" e 11% relatam que os custos são "excessivamente altos". É revelador que a empresa Harness, especializada em entrega de software por IA, preveja que as empresas perderão US$ 44,5 bilhões com serviços em nuvem em 2025, enquanto a Gartner estima que o setor gastará US$ 723,4 bilhões em nuvem em 2024, refletindo um grande desperdício.
2. IA e ML: A Nova Carga de Trabalho da Nuvem
As empresas devem investir consideravelmente mais em nuvem em breve. A Gartner e praticamente todos os especialistas acreditam que o desenvolvimento da IA permitirá um aumento significativo nessas despesas. A previsão é que, até 2029, metade de todos os recursos computacionais em nuvem será destinada a cargas de trabalho relacionadas à IA, número que atualmente é inferior a 10%. Por outro lado, a IDC estima que até 2025, 75% das empresas utilizarão serviços em nuvem impulsionados por IA, indicando que a Gartner pode estar subestimando a rapidez com que as organizações migrarão para esses serviços. Contudo, a questão permanece: esse investimento em IA na nuvem será realmente justificável? Eu tenho minhas reservas.
3. Estratégias Multicloud e Híbridas: Flexibilidade em Vez de Dependência
A era de confiar em um único fornecedor de nuvem está se esvaindo. A Gartner observou um aumento na adoção de estratégias multicloud, com empresas misturando recursos de nuvens privadas e públicas para evitar a dependência de um único fornecedor e otimizar custos, desempenho e resiliência. Até o final de 2025, é esperado que mais de 85% das organizações adotem estratégias híbridas ou multicloud.
Atualmente, já estamos perto desse ponto. A maioria das empresas – incluindo meu pequeno negócio, Vaughan-Nichols & Associates – utiliza mais de um provedor de nuvem. Um ambiente de nuvem híbrida permite que as cargas de trabalho sejam executadas em ambientes de nuvem privada e pública, frequentemente utilizando ferramentas de orquestração, como Kubernetes, para gerenciar e implantar aplicações em diferentes infraestruturas. No contexto de multicloud, a empresa pode empregar dois ou mais provedores, como Microsoft 365 para software de escritório e Google Drive para armazenamento pessoal.
De acordo com o Relatório de Segurança em Nuvem da Fortinet de 2025, mais de 78% das organizações estão usando dois ou mais provedores de nuvem. A Statista também confirmou essa tendência, indicando que, em 2024, mais de 70% das empresas utilizam múltiplos fornecedores.
4. Soluções Sustentáveis: A Nuvem Verde
A Gartner acredita que a sustentabilidade na nuvem já não pode ser considerada uma preocupação periférica. O analista destacou o crescimento de iniciativas verdes, à medida que fornecedores e usuários enfrentam pressão para reduzir seu impacto ambiental. Gigantes da nuvem como AWS, Microsoft Azure e Google Cloud estão investindo em energia renovável e centros de dados carbono-neutros.
No entanto, desconfio que o motor por trás dessa tendência não seja a preocupação ambiental, mas a redução de custos. Muitos clientes da nuvem já estão insatisfeitos com suas faturas, e operar uma nuvem verde também pode ser uma estratégia para reduzir gastos. Conforme nota a CloudZero, "ao otimizar os gastos com nuvem, as empresas podem reduzir significativamente o desperdício, diminuir o consumo de energia e, assim, minimizar suas emissões de carbono."
5. Computação de Borda e o Salto Quântico
Em 2019, Arpit Joshipura, ex-gerente de rede da The Linux Foundation, previu que "a computação de borda superaria a computação em nuvem" até 2025. Embora não tenha se concretizado por completo, sua previsão não foi tão distante assim. A computação de borda e a computação em nuvem estão convergindo, criando uma estrutura computacional integrada que possibilita análises em tempo real e aplicações de IoT que requerem latência extremamente baixa. Outros especialistas, como o futurista Bernard Marr, também notaram essa fusão, destacando que "a barreira artificial entre a computação de borda e a nuvem está desaparecendo, originando uma estrutura computacional contínua que está redefinindo o que é possível."
A computação em nuvem pública continua sendo um fator essencial, com gastos previstos em US$ 723 bilhões este ano. À medida que as duas áreas se fundem, a distinção entre elas tende a se tornar menos clara. Paralelamente, a computação quântica está emergindo do laboratório e adentrando a nuvem, com provedores como IBM, Microsoft e Amazon oferecendo capacidades quânticas como um serviço, abrindo novas possibilidades em áreas como descoberta de medicamentos e segurança cibernética. Contudo, é vital salientar que a computação quântica ainda está longe de ser uma solução viável no dia a dia das empresas. É claro que, em 2020, também se poderia dizer o mesmo sobre IA, e aqui estamos nós agora.
6. Nuvens Específicas para Setores
A Gartner também prevê que um número crescente de organizações recorrerá a plataformas de nuvem específicas para suas indústrias. A consultoria projeta que, até 2029, mais da metade das empresas utilizarão essas soluções especializadas para acelerar suas iniciativas de negócios. As plataformas de nuvem industrial oferecem recursos personalizados para atender às demandas exclusivas de setores como saúde, finanças, manufatura e varejo. Os fornecedores estão, cada vez mais, lançando soluções que vão além dos serviços genéricos, permitindo que as empresas escalem suas iniciativas digitais e respondam de maneira mais eficaz a desafios específicos de suas indústrias.
Nesse aspecto, parece que a Gartner está atrasada em relação à realidade. Muitas indústrias já estão adotando nuvens verticais desenvolvidas exclusivamente para suas necessidades. Por exemplo, se o seu celular utiliza 5G de grandes operadoras como AT&T, Deutsche Telekom, Orange, SK Telecom, Comcast ou Verizon, seus dados e voz dependem de nuvens OpenStack que operam nos bastidores.
7. Soberania Digital
Se você estiver nos Estados Unidos, é provável que não conheça bem o conceito de soberania digital. No entanto, em outras partes do mundo, especialmente na UE e no Reino Unido, a desconfiança em relação a serviços de nuvem baseados nos EUA é significativa. Muitos temem que seus dados não estejam suficientemente protegidos. O atual governo dos EUA não tem feito amigos fora do país ultimamente. Conforme mencionado pela Gartner, "as organizações serão cada vez mais obrigadas a proteger dados, infraestrutura e cargas de trabalho críticas contra controle de jurisdições externas e acesso de governos estrangeiros". A previsão é que até 2029, mais de 50% das organizações multinacionais adotem estratégias de soberania digital, um aumento significativo em relação a menos de 10% hoje. Pessoalmente, acredito que essa mudança ocorrerá até mais rápido do que o esperado. Quando estive por um mês no Reino Unido, conversei com diversos profissionais do setor de nuvem sobre esse assunto, e o mesmo acontece em outros lugares. No final do ano passado, Younghold Han, vice-presidente de nuvem automotiva da Hyundai, disse-me que a empresa optou pelo OpenStack por oferecer o controle e a segurança necessários para proteger adequadamente seus dados.
8. A Ascensão da Supernuvem e a Design Centrada no Usuário
Um alerta: mais jargão técnico à vista. Contudo, o conceito de supernuvem realmente descreve algo útil. Uma supernuvem fornece uma única interface ou plano de controle para gerenciar recursos, cargas de trabalho e dados entre todas as nuvens participantes. Isso elimina a necessidade de se aprender as particularidades de cada provedor em relação a interfaces e APIs. Contudo, essa integração não é simples. A Gartner acredita que isso acontecerá. Atualmente, programas de supernuvem, como Snowflake Data Cloud, Databricks Lakehouse Platform e Dell Project Alpine, podem lidar com partes do problema, mas ainda não existe uma solução definitiva.
Perspectivas Futuras
As previsões da Gartner, apoiadas por analistas do setor e dados de mercado, esboçam um cenário de um ecossistema de nuvem mais inteligente, verde e essencial para o sucesso empresarial do que nunca. Como Rogus mencionou, "a nuvem continuará a desbloquear novos modelos de negócios, vantagens competitivas e formas de alcançar missões empresariais." As organizações que se adaptarem a essas tendências estarão bem posicionadas para prosperar em um futuro dirigido pela nuvem. Aqueles que ficarem para trás enfrentarão dificuldades em um mundo cada vez mais centrado na tecnologia em nuvem.
Referência: zdnet.com
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