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Autores e roteiristas de ficção científica sempre imaginaram companheiros de IA auxiliando os humanos na exploração cósmica. Às vezes, as coisas vão bem (como o comandante Data, um oficial amigável e confiável da Frota Estelar), e outras vezes nem tanto (“Desculpe, mas não posso fazer isso, Dave”). Atualmente, a possibilidade de navegação espacial assistida por IA — que, não faz muito tempo, parecia totalmente extravagante — pode estar se tornando uma realidade prática.
Em maio, um artigo publicado no servidor de pré-impressão arXiv apresentou a pesquisa de três especialistas em IA que demonstraram como modelos de linguagem de grande escala (LLMs) poderiam ser utilizados para auxiliar humanos na pilotagem de espaçonaves. Os pesquisadores usaram o GPT-3.5 da OpenAI e o LLaMA da Meta “para desenvolver um agente inteligente capaz de controlar uma espaçonave em tempo real”, conforme descreveram no artigo.
A navegação espacial bem-sucedida — seja pilotando remotamente um satélite ou controlando uma embarcação internamente — exige uma quantidade imensa de telemetria, ou um conjunto de dados diversos provenientes de múltiplas fontes, para determinar e regular métricas críticas, como velocidade e atitude. O estudo sugere que os LLMs poderiam ajudar os humanos a coletar esses dados, similar a como os algoritmos de carros autônomos reagem continuamente a obstáculos no ambiente e ajustam sua trajetória conforme necessário.
O uso de LLMs pelos autores significa que seu sistema pode ser operado inteiramente através de comandos em linguagem natural. Um piloto humano na Terra, por exemplo, poderia instruir o sistema a não “aplicar os aceleradores de rotação” caso a nave estivesse adequadamente posicionada; se não estiver, um comando alternativo orienta o sistema a usar os propulsores para realizar a correção necessária.
“A LLM processa o comando e responde com uma ação que será integrada ao KSDPG para controlar a espaçonave”, explicaram os autores em seu relatório. A automação na viagem espacial não é uma novidade: muitos procedimentos rotineiros, como monitorar as trajetórias de detritos espaciais potencialmente perigosos e controlar sondas em órbita profunda, já são realizados por máquinas. No entanto, este artigo pode sinalizar uma nova fronteira para a aeronáutica e a exploração espacial: utilizar sistemas por trás de chatbots de IA populares, como ChatGPT, Gemini e Claude, como copilotos automáticos, com os quais os humanos podem interagir através de comandos textuais relativamente simples.
“Até onde sabemos, este trabalho é pioneiro na integração de agentes LLM na pesquisa espacial,” acrescentaram os autores. O artigo foi submetido ao Kerbal Space Program Differential Game, uma competição promovida pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que desafia engenheiros a testar e propor métodos inovadores para viagens espaciais autônomas. Os programas de entrada da competição são executados no motor de jogo proprietário do Kerbal Space Program e avaliados por sua capacidade de realizar diversas tarefas do mundo real, como perseguir um satélite furtivo.
A solução baseada em LLM conquistou o segundo lugar na competição; o prêmio principal foi entregue a um sistema desenvolvido com algoritmos que modelam a dinâmica de voo de espaçonaves reais. Embora todas as aplicações descritas permaneçam hipotéticas, o artigo oferece uma visão de um futuro talvez não tão distante, no qual satélites e naves espaciais tripuladas sejam pilotados tanto por humanos quanto por LLMs.
Referência: arXiv.org
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