China cria fundo para impulsionar o desenvolvimento de inteligência artificial

Logo após o êxito global do mais recente modelo de raciocínio da inteligência artificial da DeepSeek, as principais autoridades econômicas da China prometeram estabelecer um fundo estatal destinado a apoiar a inovação tecnológica. O “fundo de orientação de capital de risco estatal” terá foco em áreas avançadas, como inteligência artificial, tecnologia quântica e armazenamento de energia a hidrogênio, conforme revelado por Zheng Shanjie, chefe do planejador econômico estatal da China, em uma entrevista na quinta-feira (6), durante as reuniões anuais do órgão legislativo e consultivo nacional da China. Zheng, que preside a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, acrescentou que o fundo deve atrair cerca de 1 trilhão de yuans (aproximadamente US$ 138 bilhões) em capital ao longo de 20 anos, proveniente de governos locais e do setor privado.

Líderes chineses identificam chips avançados, computação quântica, robótica e IA como fundamentais para impulsionar o crescimento econômico e modernizar a indústria. No entanto, a China enfrenta uma pressão crescente devido às restrições tecnológicas impostas pelos EUA. Zheng adotou um tom provocador durante a coletiva de imprensa, elogiando o rápido progresso da China em microchips, modelos de linguagem de IA e robôs industriais e humanoides. “Cenas que antes pareciam exclusivas da ficção científica agora estão se concretizando. Estamos avançando firmemente rumo às fronteiras globais da tecnologia e inovação”, afirmou Zheng. “Isso demonstra que as tentativas de supressão e bloqueio por certas forças apenas aceleram nosso compromisso com a inovação independente”, acrescentou, fazendo uma referência clara aos Estados Unidos.

A DeepSeek, uma empresa privada cujo modelo de linguagem R1 agitou os mercados de ações internacionais desde seu lançamento em janeiro, conseguiu quase igualar as capacidades de seus concorrentes — incluindo o GPT-4 da OpenAI, o Llama da Meta e o Gemini do Google — mas a um custo muito mais baixo. Isso surpreendeu observadores, uma vez que os EUA têm trabalhado arduamente para limitar o fornecimento de chips de IA de alta capacidade para a China, alegando questões de segurança nacional. Isso sugere que a DeepSeek, aparentemente, conseguiu desenvolver seu modelo com chips de IA relativamente menos poderosos.

Na quarta-feira, o primeiro-ministro chinês Li Keqiang se comprometeu a “fomentar indústrias emergentes e indústrias do futuro” ao apresentar o relatório de trabalho do governo. Ele prometeu criar um mecanismo para aumentar o financiamento em setores como biofabricação, tecnologia quântica, IA integrada e tecnologia 6G.

Depois de anos priorizando a inovação tecnológica em detrimento da demanda interna, os líderes chineses começaram a demonstrar um compromisso renovado com o fortalecimento do consumo como sua principal prioridade política. O governo chinês anunciará em breve um “plano de ação especial para impulsionar o consumo”, declarou Zheng, o funcionário econômico. No ano passado, mesmo após um estímulo em setembro, a maior parte do crescimento da China provém das exportações, resultando em um superávit comercial recorde de quase US$ 1 trilhão. Essa força desencadeou a ira do presidente dos EUA, que recentemente aumentou as tarifas de importação sobre produtos chineses para 20%.

O consumo doméstico na China representou apenas 39% do produto interno bruto (PIB) do país em 2023, de acordo com dados do Macquarie Group, que é o ano mais recente disponível. Isso contrasta com 49% na Coreia do Sul e 55% no Japão, ambos países asiáticos com altas taxas de poupança, e 68% nos Estados Unidos. “Pequim está determinada a encontrar forças internas em meio a crescentes incertezas externas. A China está lançando medidas especiais para estimular o consumo doméstico”, afirmaram economistas do HSBC em uma nota publicada na quarta-feira.

Como parte dessas iniciativas, a China aumentou seu déficit orçamentário para cerca de 4% do PIB, conforme anunciado pelo primeiro-ministro Li em seu relatório de trabalho. Esse é o nível mais elevado em décadas e faz parte de um plano maior para aumentar os gastos e mitigar os impactos das tarifas dos EUA. Ele também sinalizou que a cota para emissão de títulos governamentais aumentaria em mais de 25% em comparação ao ano passado, chegando a 6,2 trilhões de yuans (US$ 855 bilhões), que seriam distribuídos entre as autoridades locais e centrais. Títulos especiais emitidos por governos locais serão destinados a investimentos em infraestrutura e para ajudar o setor imobiliário em dificuldades, enquanto as autoridades centrais reservam cerca de 300 bilhões de yuans (US$ 41 bilhões) para subsídios ao consumidor em um programa popular de troca de carros e eletrônicos, chamado “dinheiro por sucata”.

O sucesso do governo dependerá de sua capacidade de revigorar o “espírito animal” dos empreendedores privados na China, que são cruciais para promover a inovação tecnológica, especialmente diante de novas restrições impostas pelos EUA. No mês passado, o líder chinês, Xi Jinping, recebeu os principais executivos de tecnologia do país em Pequim e declarou que era “um momento nobre” para as empresas privadas “darem o máximo de suas capacidades”. Empresas privadas representam mais de 60% do PIB da China e mais de 80% dos empregos, apesar de serem menores em comparação com o setor estatal. Contudo, muitas dessas empresas, principalmente no setor tecnológico, ainda estão se recuperando de uma intensa repressão regulatória que durou mais de três anos. A Lei de Promoção da Economia Privada, que será discutida durante as atuais reuniões políticas, pretende garantir suporte e proteção legal para as empresas, conforme afirmou Yang Decai, diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Privada da Universidade de Nanquim. “Isso responde prontamente a preocupações do setor privado, como a proteção dos direitos de propriedade e a promoção de competição justa”, declarou ele a jornalistas na terça-feira no Grande Salão do Povo em Pequim. “Isso elevou a confiança das empresas privadas e nossas expectativas para o mercado, o que é crucial para o crescimento estável da economia chinesa.”

Referência: https://www.cnn.com/business/21712633-china-set-to-create-state-backed-venture-capital-fund/

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