Autoridades do governo do então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, informaram a determinados servidores federais que a equipe de tecnologias do departamento comandado por Elon Musk utiliza inteligência artificial para monitorar as comunicações de pelo menos uma agência federal em busca de descontentamento em relação a Trump, de acordo com duas fontes que conhecem a situação. Embora grande parte das atividades do Departamento de Eficiência Governamental (Doge, em inglês) permaneça sob sigilo, essa vigilância representaria uma aplicação incomum da tecnologia para identificar sinais de deslealdade em um quadro de funcionários já afetado por uma onda de demissões e cortes drásticos de custos.
Além disso, a equipe do Doge está utilizando o aplicativo Signal para suas comunicações, conforme reportou outra fonte a respeito do assunto, o que pode infringir as normas federais de manutenção de registros, uma vez que as mensagens podem ser configuradas para se apagarem após um determinado tempo. Eles têm incorporado extensivamente o chatbot Grok AI, desenvolvido por Musk — uma potencial concorrente do ChatGPT — como parte de seus esforços para reduzir a estrutura do governo federal, conforme relatado. A Reuters não conseguiu determinar com precisão a maneira como o Grok está sendo implementado.
Tanto a Casa Branca quanto o Doge e Musk não retornaram aos pedidos de comentários. O emprego da inteligência artificial e do Signal agrava as inquietações entre especialistas em segurança cibernética e ética governamental, que alertam que o Doge pode estar atuando sem a devida transparência e que Musk ou o governo Trump poderiam manipular as informações obtidas pela inteligência artificial para favorecer seus interesses pessoais ou para direcionar ataques políticos. Kathleen Clark, especialista em ética pública da Universidade de Washington em St. Louis, sublinhou que a utilização do Signal pelo Doge levanta questões adicionais sobre a segurança dos dados, especialmente após críticas a autoridades do governo por terem, de forma errônea, incluído um jornalista em um chat sobre estratégias para operações militares no Iémen.
“Se eles estão utilizando o Signal e não estão armazenando todas as mensagens em registros federais, estão agindo de forma ilegal”, enfatizou ela. Um uso indiscriminado de tecnologias é evidente nas operações do Doge, como demonstram entrevistas da Reuters com quase 20 pessoas que compreendem as atividades do departamento e uma análise de centenas de páginas de documentos judiciais relacionados a contestações sobre o acesso do Doge a dados. Na Agência de Proteção Ambiental, por exemplo, alguns gerentes foram informados por representantes de Trump que a equipe de Musk está usando inteligência artificial para vigiar os funcionários, buscando até mesmo linguagem em comunicações que poderiam ser vistas como hostis a Trump ou Musk.
Fontes republicanas relataram que o Doge estaria em busca de funcionários cujos trabalhos não estivessem alinhados com a missão da administração, com um gerente alertando: “Cuidado com o que você diz, escreve e faz.” Musk caracteriza o Doge como uma iniciativa orientada por tecnologia para tornar o governo federal mais eficiente, combatendo desperdícios, fraudes e abusos. Segundo ele, o objetivo é reduzir em US$ 1 trilhão os gastos, o que corresponde a 15% do orçamento anual dos Estados Unidos.
Poucos contestam a necessidade de modernização nos sistemas do governo americano. No entanto, críticos argumentam que o presidente e seus conselheiros estão eliminando funcionários públicos não partidários e instalando aliados que provavelmente ignorariam corrupção.
Referência: Autoridades do governo dos Estados Unidos afirmam que equipe de Musk usa IA para monitorar comunicações.
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