Na segunda-feira, o novo CEO da Intel, Lip-Bu Tan, que assumiu o cargo há apenas 15 dias após a saída de Pat Gelsinger, apresentou de maneira ampla sua estratégia para devolver a empresa ao seu status de destaque. Durante o Intel Vision, um evento anual voltado para clientes e parceiros em Las Vegas, Tan destacou a necessidade de mudar a cultura da Intel, prometendo conduzir a empresa "como uma startup, desde o primeiro dia". Ele argumentou que a mudança cultural é necessária porque a Intel perdeu parte de seu foco em engenharia ao longo dos anos. "A Intel perdeu um certo talento ao longo do tempo", afirmou. "Quero reunir esse talento e atrair novas pessoas."
Relembrando sua paixão pelo basquete e pelo time Golden State Warriors da Califórnia, Tan comentou: "Eu amo o jogo, como eles passam a bola para o colega de equipe – este é o tipo de equipe que eu gostaria de construir." Todo esse esforço para transformar a cultura é essencial para "unir equipes fortes para corrigir os erros do passado e começar a recuperar a sua confiança". Tan destacou de forma clara os problemas enfrentados pela Intel. Sem entrar em detalhes sobre os erros, é amplamente reconhecido por investidores e pela indústria que a Intel perdeu uma quantidade significativa de participação de mercado para a AMD ao longo dos anos e também deixou a batalha da inteligência artificial nas mãos da Nvidia. "Tem sido um período difícil por muito tempo para a Intel", observou Tan. "Foi muito difícil para mim assistir a sua luta; simplesmente não posso ficar de fora sabendo que poderia ajudar a reverter a situação."
Dirigindo-se aos clientes presentes, Tan mencionou: "Vocês merecem mais e precisamos melhorar – e vamos." Ele pediu ao público para "ser brutalmente honesto conosco. Isso é o que espero de vocês esta semana, e acredito que um feedback severo é o mais valioso." Ele delineou algumas metas mais específicas, afirmando que a empresa precisa reforçar sua estrutura financeira, que tem visto um colapso nos lucros, resultando na suspensão do pagamento de dividendos.
Em termos mais concretos, Tan abordou a necessidade de reformular a "arquitetura" dos chips da Intel. Esse é um termo técnico no mundo dos semicondutores que se refere à organização dos transistores de um chip para resolver um problema. A Nvidia superou a arquitetura x86 da Intel com GPUs que se beneficiaram da era da IA. "Precisamos acelerar o desenvolvimento de uma nova plataforma de arquitetura computacional", disse ele, "para adotar IA e impulsionar um desempenho e eficiência energética significativos." Tan ressaltou que criar uma nova arquitetura exigirá que a empresa "mude" sua abordagem de design de hardware. Tradicionalmente, a Intel tem trabalhado "de dentro para fora", conforme observado. "Nós projetaríamos o hardware e depois descobriríamos o software." Hoje em dia, afirmou, "precisamos inverter isso, começando com o problema que estamos tentando resolver, as cargas de trabalho envolvidas e, em seguida, trabalhar para trás a partir disso" até o design do chip.
Ele chamou isso de uma "mentalidade de software 2.0", fundamentada em seus anos de investimento em startups de software. Antes de se tornar membro do conselho da Intel há dois anos, cargo que deixou antes da saída de Gelsinger, Tan trabalhou como capitalista de risco e como executivo da Cadence Design Systems. Ele foi chamado para resolver problemas na Cadence quando suas vendas estavam caindo, e permaneceu 15 anos na empresa, conforme comentou. A Cadence ensinou várias lições, incluindo ouvir os clientes sobre a qualidade dos produtos e adaptar-se. "Quando assumi [a Cadence], fiz uma avaliação importante com um cliente, e pedi que ele avaliasse nossos produtos", recordou. "O executivo disse que nenhum dos fornecedores sequer teria coragem de fazer essa pergunta, mas eu disse que precisava saber o quão ruim meu produto era." O resultado, ele lembrou, foi "muitas notas D, muitas notas E e várias F." Para Tan, que abandonou um doutorado em engenharia nuclear no MIT para ir para o Vale do Silício, "isso foi humilhante", disse. "Como acadêmico, nunca tinha tirado abaixo de B."
Contudo, o resultado do feedback sincero foi que "a Cadence foi de um crescimento de receita de dígitos baixos para de dígitos duplos", afirmou. Para consertar o que está quebrado na Intel, o lema de Tan é muito simples: "Prometemos menos e entregamos mais." "Esse tem sido meu emblema. Não ficarei satisfeito até que todos vocês fiquem encantados." Tan enfatizou a importância dos vastos esforços de fabricação da Intel e mencionou ter um cliente disposto a quem a empresa fabricará chips sob uma taxa, um negócio iniciado sob a liderança de Gelsinger. Neste mercado, a empresa está competindo com o gigante global, Taiwan Semiconductor Manufacturing, que há muito ultrapassou a Intel em competência de fabricação de chips e está se preparando para investir nos EUA. "A fabricação é um negócio de serviços", observou ele. "É construído sobre uma base de confiança, que é muito importante." O histórico de Tan na Cadence pode ser um ativo valioso, indicou, pois as ferramentas da Cadence precisavam funcionar dentro do processo de design único de cada fabricante de chip. "Eu percebo que cada cliente de fundição tem um método e estilo de design únicos", disse. "Aprendi isso na Cadence. Precisamos aprender a nos adaptar a cada cliente."
Além de falar sobre mudanças, Tan expressou seu respeito pela Intel e sua missão. Ele observou que, como capitalista de risco na Walden Catalyst Ventures e presidente da Walden International, financiou muitas startups de chips em um momento em que outros investidores sequer consideravam apoiar um fabricante de chips. Isso incluiu empresas que estão se destacando atualmente, como Credo Technology e Astera Labs, que estão lucrando imensamente com a demanda por alta largura de banda em sistemas de IA. Tan disse que a Intel é "uma empresa icônica e essencial que é importante para a indústria e também para os Estados Unidos." Em um dado momento de sua fala, Tan ficou emocionado ao confessar a importância que atribui à tarefa. Tan, que tem 66 anos, afirmou: "Algumas pessoas [me perguntaram] por que assumir esse trabalho agora, nesta fase da minha carreira? A resposta é muito simples: eu amo esta empresa."
Referência: Intel
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