A inteligência artificial foi um dos assuntos frequentemente discutidos pelo papa Francisco, que faleceu na segunda-feira (21), aos 88 anos. Em várias de suas declarações, o líder religioso advertiu sobre os riscos que a tecnologia pode representar e clamou por uma regulamentação adequada desse setor. Poucos meses atrás, em janeiro deste ano, o Vaticano divulgou sua posição oficial a respeito deste tema, enfatizando que a IA traz consigo “a sombra do mal” devido à capacidade de disseminar informações falsas. “Os avanços técnico-científicos, que possibilitam um controle sem precedentes sobre a realidade, oferecem ao ser humano uma ampla gama de opções, algumas das quais podem representar um risco para a sobrevivência da humanidade e uma ameaça para a nossa Casa comum”, afirmou o papa em sua mensagem. “Os progressos tecnológicos que não promovem a melhoria da qualidade de vida de toda a humanidade, mas que, ao contrário, intensificam as desigualdades e os conflitos, jamais poderão ser considerados um verdadeiro avanço”, ele complementou.
Em relação à regulamentação da IA, em 2023, o papa pediu a todos os países que se empenhassem na criação de um tratado internacional que estabelecesse normas para regular o desenvolvimento e a utilização da inteligência artificial em todo o mundo. “A dimensão global da inteligência artificial evidencia que, além da responsabilidade dos Estados soberanos em regular seu uso em âmbito interno, as organizações internacionais têm o potencial de desempenhar um papel determinante na formação de acordos multilaterais e na coordenação de sua implementação e fiscalização”, afirmou ele em sua mensagem naquela ocasião. No ano seguinte, em 2024, Francisco se tornou o primeiro papa a discursar em uma cúpula do G7, onde novamente mencionou a inteligência artificial. Ele destacou que a IA constituiu uma “transformação histórica” para a sociedade, mas sublinhou a importância de um monitoramento rigoroso da tecnologia em desenvolvimento para resguardar a vida e a dignidade humana. Ele reconheceu o entusiasmo gerado por novas inovações, mas salientou que a IA poderia também aumentar a injustiça entre as nações desenvolvidas e em desenvolvimento, assim como entre as classes sociais privilegiadas e as oprimidas. “Cabe a todos fazer um uso responsável da IA, porém, a responsabilidade recai sobre a política para criar as condições que tornem esse uso adequado e benéfico”, acrescentou.
Francisco também foi contundente ao ressaltar os perigos da desinformação gerada por inteligência artificial – da qual ele próprio foi alvo, quando uma imagem sua usando uma jaqueta puffer se espalhou como se fosse autêntica. Em um discurso dirigido a líderes políticos e econômicos durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, no início deste ano, ele alertou que a tecnologia pode intensificar a crescente “crise da verdade”. “Os resultados gerados pela IA podem ser quase indistinguíveis dos produzidos por seres humanos, levantando preocupações sobre seu impacto na crescente crise da verdade no espaço público”, afirmou Francisco em um comunicado lido durante o evento. “Para lidar com as complexidades da IA, os governos e as empresas precisam exercer due diligence e vigilância adequadas.”
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